Diante de tanta dificuldade em construir uma sociedade mais solidária surgem experiências comunitárias exitosas e persistentes. Em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, por exemplo, lugar com mais de 100 mil habitantes, a organização G10 Favelas Paraisópolis criou verdadeira estratégia de guerra (que já dura um ano) para lidar com a pandemia e a quarentena diante de tantas ausências e vulnerabilidades.
Ao longo de um ano o G10 Favelas Paraisópolis realizou ações que merecem ser enumeradas como registro e inspiração para outras organizações comunitárias:
- Mobilizou 658 voluntários (a maioria é mulher) para colaborar nas mais diversas ações;
- Organizou comitês dos bairros, mapeando e identificando na comunidade líderes voluntários, responsáveis por cuidar, cada um, de 50 casas, executando tarefas que compreendem a conscientização dos moradores para que fiquem em confinamento, a entrega de doações, o recebimento de informações de qualquer caso de gravidade (doença);
- Coletou e sistematizou dados gerando informações sobre as condições e necessidades das famílias;
- Fez campanha para doação de produtos de limpeza, higiene e alimentar e organizou a logística para receber os donativos, montar as cestas básicas (de alimento, higiene e limpeza) e distribuí-las de acordo com as necessidades observadas a partir da coleta de dados citada acima;
- Contratou ambulâncias para garantir socorro e transportar as pessoas que moram em lugares onde o SAMU não entra. Segundo informa o G10 foram atendidas 10.900 pessoas;
- Adaptou duas escolas, transformando-as em centro de acolhimento para os moradores contaminados pela Covid-19. Nesse aspecto, foram acolhidas mais de 500 pessoas;
Do ponto de vista econômico, ainda em Paraisópolis a Cooperativa "Costurando Sonhos Brasil" criou uma "home office" de costureiras que produziram ao longo do ano quase 2 milhões de máscaras, das quais 300 mil entregues gratuitamente na própria favela.
A empresa "Mãos de Maria" tornou-se uma cozinha comunitária produtora de aproximadamente 1,5 milhão de marmitas ao longo do ano, chegando a entregar gratuitamente 10 mil marmitas por dia.
É verdade que ao longo do tempo, a demanda por marmita aumentou e as doações diminuíram, gerando crise, estrangulamento da produção e da distribuição. Atualmente são distribuídas 700 marmitas por dia.
Do ponto de vista jurídico, foi criada uma frente de advogados e defensores que reivindica judicialmente o direito à água potável.
As iniciativas do G10 indicam capacidade de organização comunitária e inteligência colaborativa diante da crise sanitária que escancara as desigualdades.
Que mais líderes comunitários e prefeitos municipais possam aprender com essa iniciativa comunitária.