O termo comumente usado na medicina pode ser facilmente emprestado à arquitetura e urbanismo. No início dos anos 1980, o urbanista catalão Oriol Bohigas, professor da Universidad de Cataluña, se utilizou da palavra acupuntura para um conjunto de pequenas intervenções urbanas capaz de regenerar o tecido urbano de Barcelona e mostrar as vantagens em requalificar pequenos equipamentos e espaços públicos.
Nossas cidades, ao longo dos anos, foram perdendo a qualidade desses locais. Creches, escolas, unidades básicas de saúde, terminais de ônibus e trens e tantos outros deixaram de cumprir uma importante função na paisagem do município, como referência urbana no território. Da mesma forma, os espaços livres públicos, como praças, parques, ruas e calçadas, se deterioraram ao longo do tempo e, os implantados recentemente, não têm a qualidade espacial necessária para garantir o devido “conforto urbano”.
Curitiba, sob a administração do então prefeito Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, explorou o termo da Acupuntura Urbana para fazer de seus espaços públicos e equipamentos importantes instrumentos de transformação na qualidade de vida de seus habitantes, tornando-se referência mundial em diversos projetos planejados por seu gestor.
Sem dúvida, o Sistema Integrado de Transporte, com ônibus expressos, linhas alimentadoras e canaletas exclusivas, demonstrou a importância do transporte coletivo para este fim. O conhecido “Ligeirinho” demonstrou sua eficiência, sendo implantado em diversas cidades brasileiras e tantas outras na América Latina, como o “Transmilênio” em Bogotá, na Colômbia, e o BRT em Guadalajara, no México.
Por outro lado, a requalificação dos espaços públicos, como a implantação da Rua das Flores, a transformação das desativadas pedreiras em parques, assim como os novos pontos de encontro e a reciclagem de uso de antigos edifícios, possibilitaram a reestruturação da cidade e ampliou significativamente a qualidade de vida do cidadão e de seus visitantes.
Em Suzano, apesar de sua juventude administrativa, os anos 1980 e 1990 foram marcados por um retrocesso urbano enorme, criando um grande vácuo e um desequilíbrio funcional. Maus espaços urbanos expulsam as pessoas e geram o desânimo em caminhar sobre as calçadas, ampliando os índices da “sensação de insegurança”; um processo de “Gentrificação” ingênuo por meio da má qualidade de seus espaços urbanos.
Por um curto período (2005-2012), voltamos a discutir a respeito. E agora temos esta oportunidade novamente. A retomada de obras paralisadas há décadas, como a Arena Suzano e a Marginal do Una, são exemplos de que a cidade volta a ser reestruturada a partir do conceito da Acupuntura Urbana, enquanto a rediscussão de trechos do tecido urbano degradado, como os centros comerciais e o Parque Max Feffer, e a requalificação urbana e paisagística podem ser tomadas como uma “Gentileza Urbana” capaz de reviver a qualidade de vida desejada por todos!