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Jornal Diário de Suzano - 07/09/2024
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Coluna

Jardins de Chuva

02 outubro 2019 - 23h59
Jardins de chuva são jardins rebaixados que captam, limpam e infiltram água de chuva de telhados, pisos e vias. Normalmente têm entre 15 e 30cm de profundidade e têm objetivos de drenar o excesso de água e também reidratar a paisagem urbana com água de chuva.
Nos jardins de chuva, o uso de plantas nativas dispensam o uso de insumos externos para seu crescimento, colaboram com a remoção de poluentes no sistema e oferecerem alimento para pássaros, borboletas e outros polinizadores.
O jardim de chuva foi criado por Zephaniah Phiri Maseko, do Zimbábue. Maseko possuía um quinhão de terra e estava desempregado. Então começou a observar a chuva e seu impacto sobre a terra, ou seja, aplicar os princípios da permacultura (cultura permanente). Percebeu que em determinadas áreas o cultivo de alimentos não prosperava porque a água não infiltrava o solo; em outros, a água encharcava; em outras ainda, causava erosão. Começou a construir barragens, fazer buracos no solo, definir caminhos para a água, manuseando a terra e usando plantas, algumas das quais funcionavam como esponjas para drenar o excesso de água. Com essas técnicas, usando plantas e auxiliado pela gravidade, Maseko controlou o deslocamento da chuva no terreno e criou condições para a absorção da água pela terra. Em seguida, Maseko começou a observar a adequação do plantio ao relevo do terreno. Assim passou, por exemplo, a plantar espécies com maior necessidade de água em locais de possa e de charco (fundo de vale, por exemplo). Maseko morreu em 2015, mas sua obra espalhou-se pelo mundo.
Em São Paulo, no final de 2018, um grupo de ambientalistas criou o primeiro jardim de chuva. O feito está no Largo da Batata, em Pinheiros. A área era de um antigo posto de gasolina. O entulho foi removido. Foram feitos testes para verificar o nível de contaminação da área. Em seguida, realizado um mutirão ecológico para conferir sentido de uso ao espaço. A área de captação do jardim de chuva deve ter aproximadamente mil m². O substrato do jardim é formado por areia e composto orgânico, combinação que melhora a qualidade da água e auxilia o desenvolvimento das 60 araucárias plantadas, dos araças, cerejeiras, guarirobas, jerivás, palmeiras, pitangueiras, dentre outras.
Atualmente quem passa ao lado da Igreja de Pinheiros, apesar das árvores, talvez nem perceba a área. À pé, com um pouco de atenção, olhando-se para baixo percebe-se o jardim; olhando-se para cima ainda se vê as quatro pilastras que sustentavam a cobertura do antigo posto de gasolina. O jardim contrasta com o próprio Largo da Batata em termos do volume de plantas e árvores. Um motorista de táxi, que faz ponto no local, disse-se que o posto foi desativado há aproximadamente cinco anos e não sabia me dizer de quem era a autoria da intervenção no lugar em que ele próprio trabalha.
O jardim de chuva, é uma tecnologia apropriada, solução simples de infraestrutura verde, que pode ser aplicada tanto no âmbito residencial quanto no âmbito urbano, seja em áreas de replantio, em trechos de calçada, em rotatórias ou em áreas abandonadas como ocorreu em São Paulo. Se for abraçado pela sociedade civil, pode ser um importante instrumento de mobilização e tema gerador para debater questões como enchentes, apropriação do espaço público, pomares urbanos e áreas de beleza e contemplação.