O ano era 2002. Eu estava no curso de Rádio, TV e Multimídia da Universidade de Mogi das Cruzes (onde depois voltaria para cursar Jornalismo e mais tarde começar e parar a faculdade de Direito) e fazia estágio na TV da universidade. Na época eu produzia, roteirizava e apresentava um programa de entrevistas com escritores chamado "Página Aberta". A universidade tinha uma parceria com algumas editoras e nós recebíamos os livros antes de serem lançados e convidávamos o autor para um bate papo sobre o que ele escreveu. Foi justamente nesse ano que o professor, historiador e ex-diretor geral do Museu do Ipiranga, José Sebastião Witter lançou o livro "Memorial de Mogi das Cruzes". Eu li o livro, montei o roteiro de perguntas e agendei a gravação com o professor Witter. No dia marcado ele chegou no estúdio da TV UMC, conversamos um pouco antes da gravação e começamos a entrevista. O livro era composto por uma coletânea de crônicas e curiosidades sobre Mogi das Cruzes que o professor publicou no principal jornal da cidade. Por isso, a nossa conversa tratou das lembranças que o professor Witter tinha de Mogi. Do jeito que era a vida na Mogi das Cruzes das décadas de 50, 60 e 70. Foi aí que ele fez uma afirmação que nunca mais esqueci. Falávamos sobre os prédios históricos da cidade quando o professor Witter me disse que "Mogi perdeu a oportunidade de ser uma Ouro Preto a 50 km de São Paulo". Ouro Preto é uma cidade mineira histórica que manteve as construções de arquitetura barroca e que, por conta disso, atrai milhares de turistas por ano. O mesmo tipo de construção também era a maioria no Centro de Mogi das Cruzes. Mas, segundo o professor Witter, por falta de "visão e planejamento", esses prédios e casarões foram sendo derrubados e trocados por imóveis mais novos.
Lembrei dessa frase do professor ao ver as obras para a construção de mais um condomínio residencial em Mogi das Cruzes. Toda a área de mata ciliar e eucaliptos que faziam parte da antiga Fazenda Rodeio foi suprimida para dar lugar a esse megaempreendimento. Isso em uma região que hoje já sofre com o trânsito causado, justamente, pelo crescimento populacional e a falta de uma estrutura viária planejada para receber essa população. Mas esse é um outro assunto. A ideia aqui é falar sobre o espaço verde perdido. E digo isso com base na cidade que me serviu como moradia de julho de 2019 a setembro de 2021. Nesse período eu morei e trabalhei em Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul. E entre tantos pontos que me chamaram a atenção e fizeram com que me apaixonasse pela cidade, a quantidade de áreas verdes foi um deles. São parques como o "Marinha do Brasil" e o da "Redenção" que têm quase o triplo do tamanho do Parque Centenário e que ficam muito perto da área central de Porto Alegre. Além disso, a revitalização da "Orla do Guaíba" deu ao porto-alegrense um impressionante espaço de lazer ao ar livre. Tanto que a 3ª fase da revitalização entregou à cidade a maior pista de skate da América Latina.
Em Mogi não tem um lago como o Guaíba, mas temos toda a área de mata e proteção do Rio Tietê.
Tínhamos um espaço verde gigantesco que poderia virar um parque 10 vezes maior que o Centenário, mas já o perdemos. Cada vez mais condomínios avançam para cima das serras do Mar e Itapeti.
Assim como a cidade desperdiçou a chance de ser uma Ouro Preto a 50 km de São Paulo por falta de visão, pode estar jogando fora toda a capacidade ambiental que um município cercado pela Mata Atlântica pode ter.