Há vinte e dois anos, ou seja, em 2000, eu ingressava no curso de Comunicação Social da Universidade de Mogi das Cruzes. Lembro bem do "choque de realidades" que é quando um "colegial" vira um "universitário". Para quem estava acostumado com as regras de horário e vigilância da escola, viver a "liberdade" do ambiente universitário era um sonho. Porém, como diria o tio Ben, "com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". E o que falta na maioria dos primeiranistas de uma faculdade é justamente esse senso de responsabilidade. Afinal de contas, não se muda de uma hora para a outra a mentalidade de alguém que se formou no ensino médio em dezembro e dois meses depois já está sentado na carteira de uma universidade. Só que o processo de amadurecimento precisa ser rápido e é durante as aulas que essa noção aparece.
No meu caso foi em uma aula de Sociologia. Depois de abordar um tema polêmico, a professora Lúcia Montezuma soltou a seguinte provocação: "O que vocês acham disso"? A turma ficou em silêncio. Foram cinco eternos segundos entre a pergunta e a primeira resposta. E bastou apenas uma demonstração de puro achismo para que sala virasse um mercado popular de opiniões. Os "eu acho" pipocavam em todos os cantos e eram quase que gritados pelo ambiente. Era como ver as discussões em redes sociais hoje em dia, mas nesse caso com as pessoas se olhando frente a frente.
Dona de uma voz forte e marcante, a professora Lúcia acabou com o furdunço com um tapa na mesa e um militar "pedido" de silêncio. Com a ordem estabelecida, ela escaneou a turma e disse: "Aprendam a primeira lição de vocês em Comunicação. Vocês não acham nada! Vocês podem e devem se basear em análises e opiniões de especialistas. Mas vocês não acham nada".
Além de ser um dos principais fundamentos na vida profissional de um jornalista, essa lição não me sai da cabeça hoje em dia. Todas as vezes que entro no Twitter, Instagram, Facebook e Whatsapp me deparo com legiões e mais legiões de especialistas nos mais diversos assuntos. Pessoas que opinam (ou julgam) desde a postura de um participante do Big Brother até a solução para o impasse entre Rússia, Estados Unidos e Ucrânia. É como se existisse uma necessidade coletiva de opinar sobre tudo, mesmo que não se saiba nada sobre o assunto. Comportamento que, infelizmente, ganha o incentivo e o exemplo a cada semana com as transmissões via internet e pronunciamentos do atual presidente do Brasil. Sem ser médico ou cientista, e ignorando a análise e avisos de profissionais sérios e renomados da área, Bolsonaro achou que a pandemia seria uma gripezinha. Ele também achou que o Kit Covid funcionava. Em dezembro de 2020, achou que não era necessário ter pressa para a compra das vacinas. Não contente, achou que as vacinas poderiam fazer com que as pessoas desenvolvessem Aids e achou que a vacina foi a causa da morte de uma criança. Fora da área da saúde, achou que, segundo reportagem da revista Veja, "rachadinha" não fosse corrupção e achou no Centrão o símbolo da "nova política". O achismo está governando o Brasil.