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Jornal Diário de Suzano - 03/07/2024
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Coluna

Um Zen

22 junho 2024 - 05h00

Estava numa rua, na minha caminhada, quando vi uma árvore que chamam de Chapéu de Sol, rara por aqui, que aparece bem pelo nosso litoral, principalmente na minha amada Guarujá. Lembrei de uma outra árvore, parecida com essa, o Plátano, de montão nas cidades da serra, como da também querida Campos do Jordão. Árvore que iluminava a rua onde morava na Europa. Tinha feito para elas um poema no modo japonês do hai-kai:
“plátanos exibem/ todos os tempos que vem/ as folhas colorem”
Esse poema faz parte de um livro que tem alguns anos, mas ainda não terminei. Hai-kai é um poema que adoro, entre outras tantas coisas que a cultura nipônica me envolve. São três versos, dois com cinco sílabas e um com sete silabas. Esses poemas nos chamam a atenção para a natureza. Quero chegar a uma centena, ainda estou nuns oitenta. E para todos farei desenhos de bico de pena, mas estou ainda numa dezena.
Retomando minha caminhada num outro dia, encontrei um amigo antigo numa travessa da Rua Benjamin, o Chico, de origem japonesa, também não para, mesmo tendo problemas no joelho, segue avante com sua bengalinha. Evitamos, quando possível a Avenida Glicério, com sua multidão e risco de cair. Tentamos, no possível, não ficarmos trancados em casa. Não é positivo o sedentarismo, como estivemos um tempo durante a poderosa pandemia de dois anos atrás. Ele perguntou sobre minhas complicações na visão. Sim, estou em tratamento, tive uns problemas meio fortes depois da cirurgia de catarata e tenho de limitar algumas coisas, até o fim do mês, se elas seguirem bem.
- Mas sem parar tudo, cara!
Assim ele me disse. Eu sorri e ele foi insistindo. Disse-lhe que tinha saído para a minha caminhada, pois preciso desse exercício, tive de parar tudo que fosse pesado, que aumenta a pressão nos olhos, mesmo a minha hidroginástica. Mas fico atento ao tempo seco, sem humidade do ar, que só contribuí negativamente. Ele lembrou da crítica de um conhecido: “Você está aposentado! Dá uma parada!.” Mas nós sabemos bem que não queremos nem podemos parar.
Gente, como deixar de pensar nisso. Não consigo parar a minha vida. Aposentadoria não é morte, apesar de alguns governantes, que até retiram dinheiro dos aposentados, quando eles mais precisam. E lembrei ao amigo mais um tanto da cultura nipônica, como a do livro “Zen, A Arte de Viver com Simplicidade”, do pensador Shunmyo Masuno, que vai dando dicas para a gente ser feliz de pouquinho em pouquinho.
E mais uma hai-kai me veio:
“vem a poesia/ ilumina a primavera/ ar que só inspira”
Vejo assim, não me convence ser Inverno. Que bagunça fizemos com nosso mundo!
Como não seguir? Veja este outro hai-kai na minha caminhada:
”um homem avança/ sempre que seus passos seguem/ bem direto à luz”
Como deixar de buscar algo além do hoje? Por quê? Como parar? Temos de visar o futuro.
E sigo adiante:
“só luz no meu dia/ escolhe se aproximar/ seu olhar conduz”
Se temos de caminhar, vamos em frente. Se miramos a luz adiante temos de seguir. O perfume nos chama. Espalhemos aos demais.
Sempre agradeço a contribuição da Colônia Japonesa, em nossa terra desde 1908, na nossa formação cultural.