A inflação percebida pelas famílias de baixa renda desacelerou em fevereiro, graças à trégua momentânea nos aumentos das tarifas de ônibus e de energia, itens que comprometem grande parte do orçamento desses consumidores. O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) subiu 0,83% no mês passado, após a alta de 2% em janeiro, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 12 meses, contudo, o índice ganhou força e chegou a 8,06%, acima dos demais indicadores que mostram a inflação percebida por todas as famílias brasileiras, independentemente da renda. O quadro antecipa algo que deve ser constatado ao fim deste ano: as famílias mais pobres serão as mais expostas à inflação, justamente por terem uma fatia maior do orçamento comprometida com a conta de luz e com transporte público. "Tem boa chance de essas famílias sofrerem com uma inflação maior em 2015", avaliou o economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Segundo ele, enquanto o IPC geral deve terminar o ano em torno de 8%, o IPC-C1 pode avançar a 8,5%. Ambos são calculados pela FGV. A trajetória do índice mostra que o cenário é factível. Depois do sobe e desce nos primeiros dois meses do ano, a inflação da baixa renda sofrerá um novo baque neste mês, devido à incorporação - de uma só vez - do impacto do reajuste extraordinário concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) às distribuidoras de energia. O aumento médio é de 23,4%. Além disso, desde o dia 1º deste mês, as taxas adicionais cobradas conforme o regime de bandeiras tarifárias ficaram mais salgadas. "Em março, a gente espera impacto dos aumentos extraordinários na conta de energia e do valor maior das bandeiras tarifárias. Como a energia pesa 4% no índice, só por conta disso o IPC-C1 já sobe mais de 1%", detalhou Braz. "O cenário agora é de pressão, mesmo”.