Caderno D

Ocupação Milhazes será aberta em dezembro no ‘ Oi Futuro Flamengo’

16 OUT 2015 • POR • 08h00

Pintora, gravadora e ilustradora, Beatriz Milhazes é um dos nomes da arte contemporânea de maior ressonância no mundo, classificada como a artista brasileira viva mais cara da atualidade, com obras vendidas na casa dos milhões de dólares em leilões internacionais. Bailarina e coreógrafa, Márcia Milhazes conduz uma das companhias de dança mais constantes do País, que conta 20 anos de espetáculos, passagens por palcos mundo afora e uma coleção de prêmios. As duas irmãs cariocas nasceram com apenas um ano e três meses de diferença - a primeira é de março de 1960 e a segunda, de junho de 1961 - e começaram a traçar suas trajetórias artísticas na mesma década de 1980. Desde então, a força poética das criações de Beatriz se junta às investigações físicas e sensoriais de Márcia na forma de cenário. Em dezembro, elas dão um novo passo nessa trajetória artística paralela. É quando será aberta a Ocupação Milhazes nos três andares do Oi Futuro do Flamengo. Curiosamente, uma não vê o que a outra está criando para decidir em que direção seguir. "A parceria se dá de forma cuidadosa. Ela nunca se afasta da sua linguagem, mantém as questões dela, e as minhas são discutidas na coreografia. Nunca assistiu a um ensaio geral, só vê na estreia", conta Marcia, que também agrega a mãe, Glauce Milhazes, responsável pela luz e coordenação de palco. "A gente não escapa de onde saiu. Eu e Beatriz não nos vemos uma sem a outra, o que é algo muito especial, porque não necessariamente a sua irmã vai ser sua melhor amiga." Beatriz tem se preocupado mais com a interação entre os elementos cênicos e os bailarinos - a altura, se o cenário é suspenso, a profundidade, se estão apoiados sobre o palco - desde que começou a "invadir" com mais ousadia o espaço usado por eles. "O cenário em espetáculo de dança está muito mais ligado ao conceito do que propriamente à movimentação dos bailarinos. Em geral, pode tudo. Dessa vez, resolvi ser o mais pacífica, ou passiva, possível, porque o prédio já tem muita indumentária. Será uma atuação de ritmo cromático nas paredes", adianta a artista. Uma concepção a princípio bem diferente da última parceira com Márcia, o espetáculo Camélia, para o qual criou uma instalação imponente: cinco enormes móbiles cromáticos, com cerca de 900 elementos pendurados, entre cristais, mandalas e flores, sob os quais os bailarinos se movimentavam em trio, duo ou solo. Na Ocupação Milhazes, que conta também com intervenções do pintor Chico Cunha, as cores e formas de Beatriz irão dialogar com a estranheza causada pela invasão da Márcia Milhazes Dança Contemporânea num espaço que não é da dança, uma vez que o centro cultural do Flamengo, antigo Museu do Telefone e atual abrigo do Museu das Telecomunicações, é focado nas artes visuais e na fotografia. Prédio inteiro A ideia foi do curador Alberto Saraiva. "Já tínhamos um festival de videodança, mas queríamos a ocupação do prédio inteiro com uma reflexão sobre dança contemporânea. Márcia, Beatriz e Chico estão presentes cada um com sua identidade, dialogando, mas sem sair dos seus percursos", diz Saraiva.