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PT absorveu prática de ‘uso e abuso’ de poder, afirma Patrus Ananias

3 MAI 2015 • POR • 08h01

 Militante histórico e fundador do PT, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, fez críticas ao aparelhamento do comando do partido e cobrou reação dos dirigentes. Natural de Bocaiúva, em Minas, Ele é um dos poucos integrantes do governo Dilma Rousseff ligados ao ex-presidente Lula, de quem foi ministro do Desenvolvimento Social e um dos responsáveis pela criação do Bolsa Família. O ministro pretende apresentar nos próximos dias às lideranças da legenda um artigo em defesa do fim do Processo de Eleição Direta (PED) e das doações privadas. Como o sr. avalia o momento atual de crise no governo e na relação com o Congresso? Patrus Ananias - Acho que a primeira coisa é fazer uma leitura mais correta e crítica do que representou nesses 35 anos a presença do PT no cenário político, social e cultural do Brasil. Alguns adversários estão tentando reviver no Brasil o que há de pior na herança lacerdista. Estão tentado demolir, desconstituir completamente a imagem e a história do PT. A Operação Lava Jato contribui para isso? Patrus - Pensando neste momento que estamos vivendo, e falo como advogado e professor de direito (da PUC-Minas), eu tenho sérias preocupações com a maneira como está sendo conduzido esse processo da Lava Jato. Delação premiada é uma questão muito delicada no mundo inteiro. Muitos países não a adotam e, nos que adotam, a primeira condição é para que elas sejam rigorosamente preservadas para apurar a verdade, porque quem está falando é um bandido que está tentando defender a pele dele. O que está acontecendo no Brasil é que a delação está tendo vazamentos seletivos e a partir do momento que aparece um nome citado pelo delator ele está condenado. Temos uma inversão jurídica assustadora. Isso afeta a imagem do PT? Patrus - O comportamento de pessoas (corruptas) não é o do PT, que é uma instituição com milhares de pessoas do bem que nunca negociaram um centavo pelo seu voto, o seu trabalho de militância. O PT está vivendo hoje, sim, a maior crise da sua história por causa da prática do uso de recursos privados nas campanhas eleitorais. Eu tenho uma proposta para isso. Proposta para o PT sair da crise? Patrus - Eu acho que o PT de tem de assumir que foi um erro (aceitar doações de empresas), tem de deixar claro que não vai mais receber nenhum recurso privado de empresas, independentemente da reforma partidária e política. É importante que o partido ponha em prática o que defende. O sr. pretende apresentar outras sugestões ao partido? Patrus - O PT teve uma experiência negativa com o tal do PED, com a eleição direta para presidente. Acho muito ruim, porque o partido levou para dentro essas práticas relacionadas com uso e abuso do dinheiro, do poder econômico, nos processos eleitorais internos. Com o PED houve práticas lesivas, inclusive com filiação em massa, disputa de eleitores, pessoas que vão votar sem ter nenhuma consciência com o que estão fazendo. Cada vez mais me convenço que a democracia participativa é o melhor caminho. Tenho minhas ressalvas com a democracia direta, cada um no seu computador votando sozinho. A democracia pressupõe o encontro, o debate de ideias para você criar consensos. O PT fazia isso. Com o PED, acabaram os encontros partidários, que deveriam voltar. Existe desgaste do partido no poder? Patrus - É claro que há um desgaste, porque o PT nasceu com um compromisso ético muito rigoroso. O fato de pessoas do partido terem adotado práticas em campanhas eleitorais de (arrecadar) recursos de empresas nos atingiu muito. Atingiu inclusive a nossa militância e os nossos simpatizantes.