Cidades

Marido doa rim à esposa; casal quer campanha para ajudar transplantes

13 JUN 2017 • POR • 08h01

Casados há 40 anos, a história do casal Farias sempre foi de superação. Na última semana, a aposentada Ana Maria Moraes de Farias e o esposo, também aposentado, Luiz Augusto de Farias, conseguiram ultrapassar mais um desafio, o transplante de rim. Diagnosticada com diabetes aos 30 anos, Ana perdeu a visão bilateral aos 54 anos em decorrência da patologia. Aos 60 anos, ela iniciou a luta contra a doença renal. Sempre ao lado da esposa, Moraes não pensou duas vezes ao se oferecer para a cirurgia. Agora, ambos planejam incentivar o transplante do órgão. Segundo eles, o procedimento é um alívio para quem depende das sessões de hemodiálise. Ana conta que conheceu o marido aos 17 anos, depois de três anos de namoro, eles se casaram e tiveram um casal de filhos. Ela desenvolveu a diabetes no pós-parto e conviveu bem com a doença até os 54 anos, quando perdeu a visão. "Eu superei bem a perda da visão. O Luiz sempre esteve comigo, deixou o trabalho no escritório para me ajudar. Os problemas com os rins começaram aos 60 anos. Há um ano e meio luto contra a doença por meio da hemodiálise. Eram três viagens, todas as semanas, para São Paulo, para fazer o tratamento", detalha. Ela conta que soube da possibilidade de fazer um transplante inter vivos, mas não queria constranger as pessoas com o assunto, uma vez que dava a sensação de estar pedindo um órgão. "Ao falar com meu irmão, na mesma hora, ele disse que me doaria o rim. A situação me fez pensar mais sobre o assunto. Meu marido e meu filho também se ofereceram e os três fizeram os exames de compatibilidade. Todos deram positivos, sendo que se o meu irmão fosse escolhido para doar eu teria que esperar três meses, até ele estar apto". Ao mesmo tempo, diversos parentes e amigos souberam da situação. Ao todo, 17 pessoas se ofereceram para realizar o exame. Do total, 10 eram desconhecidos do casal. "Fiquei impressionada, porque pessoas que eu nunca tinha visto disseram que me doariam o rim. Como o exame do Luiz não teve nenhuma alteração, decidimos fazer o transplante e há uma semana operamos". Para a surpresa do casal, após a cirurgia, Moraes ficou internado um dia e meio, enquanto Ana passou cinco dias no hospital, entre UTI e quarto. "Foi uma bênção, deu tudo certo, meu rim funcionou na hora nela. A minha decisão de doar foi muito simples. Sempre tive boa saúde. Não seria prejudicado em nada. Foi emocionante. Não podia ver alguém, que amo tanto, sofrendo e não fazer nada. Agora estamos de repouso e bem", acrescenta Moraes. Ele também diz que a família sempre foi influenciada por Ana. "Ela estudava Direito e eu fazia pós em Economia. Quando ela teve nossa filha, comecei a ajudá-la com os estudos, tomei gosto, larguei a Economia e fiz Direito. Nossos filhos também se formaram advogados", diz. "Nosso objetivo agora é mostrar as pessoas que o transplante não é um bicho de sete cabeças. Claro que o pós-cirúrgico depende da saúde de cada um, mas está ao alcance de todos", afirma. Moraes conta ainda que conheceram muita gente na fila de espera para doação. Muitas delas falecem sem conseguir um novo rim e outras não sabem da possibilidade de receber o órgão por meio de familiares e amigos. "Nossa intenção é incentivar as pessoas. Às vezes acontece como foi com a gente. Tínhamos medo de constranger as pessoas, mas muita gente se ofereceu, pessoas que não conhecíamos e deu tudo certo".