Educação Financeira

Odete Reis compartilha dicas financeiras para o início do ano

Segundo a especialista, o momento é dificultoso para a rentabilidade

14 JAN 2018 • POR Marília Campos - de Suzano • 11h13
Odete Reis “Para o que você vai investir? Qual o seu sonho?” - Sabrina Silva/Divulgação

A palestrante, educadora e consultora financeira, Odete Reis, compartilhou em entrevista dicas importantes para este início de ano. Segundo a especialista, que também é colunista do Portal do DS, o momento é dificultoso para a rentabilidade nos investimentos, uma vez que taxa selic tende a cair. Além disso, o planejamento e controle sobre as finanças são primordiais para estipular metas a serem alcançadas nos próximos meses, a fim de realizar os sonhos- que devem, de preferência, priorizar a felicidade duradoura das vivências.

 

Com a taxa selic a 7% em queda, a tendência é encontrar dificuldade na rentabilidade dos investimentos. O índice rege a economia. "A dica é arriscar mais. Acabou a farra dos juros altos, quando ficava bem mais fácil ganhar na renda fixa. Importante agora é diversificar as aplicações. À exemplo dos investimentos no tesouro direto e no ETF, que se trata de um fundo com várias empresas envolvidas. Permite maiores possibilidades de ganho", disse a educadora.

 

Os gastos pesados de início de ano exigem maior esforço financeiro, que deveriam ser poupados durante o ano anterior. Odete enfatiza que a economia arrecadada ao longo dos últimos meses é significativa para que as cobranças deste começo de ano possam ser quitadas à vista, a fim de aproveitar os descontos e obter um ganho real. "Ainda mais importante que guardar, é controlar seu dinheiro. Ter as finanças organizadas é um grande passo para saber onde está indo sua renda".

 

Mesmo que não possua recurso suficiente para acertar essas contas, a sugestão é não deixar de pagar. "Faça todas as reduções possíveis, no dia-a-dia mesmo. Pare de comprar lanches e cafezinhos durante a semana e economize ao máximo. Se não puder, pague as cobranças de início de ano parceladas. Mas, evite juros. Vale ressaltar que os maiores juros do país estão nos cartões de crédito e cheques especiais". 

 

De acordo com a educadora, a primeira etapa é quitar as dívidas para começar a poupar. Para tanto, a recomendação é criar uma reserva de emergência. O ideal, com o tempo, é que esta quantia reservada represente quatro vezes a renda total familiar. O valor deve ser manipulado apenas em casos emergenciais, e reposto assim que possível. 

 

Lazer e Investimento

 

Odete explica que, antes de qualquer investimento, é necessário responder a perguntas básicas. "Para o que você vai investir, qual o seu sonho? De quanto você precisa? Para quando é o seu prazo? Você agüenta e aceita o risco de perder?". A palestrante indica que 50% da renda sejam empregadas nas despesas fixas mensais. A outra metade deve ser dividida entre poupar no mínimo 10% e investir na qualidade de vida. "Entra aí os gastos com cursos e educação, sua poupança e reserva emergencial". 

 

Palestrante leva educação financeira a 20 mil pessoas em oito anos de carreira

Odete Reis já ministrou cerca de 300 palestras sobre educação financeira ao longo dos oito anos de carreira. A educadora, formada em gestão financeira e pós-graduada em gestão estratégica de negócios, retornou aos bancos da faculdade depois dos 50 anos de idade e desde então já levou orientação para 20 mil pessoas. A atividade, que surgiu após a aposentadoria, apareceu da dificuldade financeira enfrentada pela família da própria consultora há 20 anos.

Antes de seguir a profissão de educadora, Odete contribuiu por quatro décadas como assessora executiva trilíngue em multinacional, realizando conversações em português, inglês e alemão entre empresas. Apesar da condição, nos anos 1990 a família passou por dificuldades. Foi quando percebeu que era hora de mudar. “Eu era uma grande consumidora. Costumava pegar dinheiro emprestado com uma amiga, até que ela deu um basta e disse que eu não tomaria jeito. Decidi então fazer uma reunião em casa, evolvi a todos, inclusive as crianças”, disse a profissional, que também tem duas filhas, na época ainda pequenas.     

“Passamos a viver nas condições compatíveis ao nosso orçamento. Vendi o carro, aderimos ao ônibus, despedi funcionários, dividimos as atividades domésticas, cortei regalias, até mesmo o iogurte das crianças. Economizamos em todos os gastos básicos, como água e luz”, contou. A família logo sentiu os resultados. “Em seis meses estávamos com as contas em dia. Optamos apenas pelos financiamentos saudáveis e compramos tudo à vista. Foi difícil”.

Nos últimos anos de trabalho, antes de se aposentar, Odete buscava atividades que pudessem preencher o tempo. “Eu me aposentei muito jovem, eu não queria parar. Queria algo que me desse liberdade, tempo e qualidade de vida”. Neste período, há nove anos, a empresa em que ainda atuava passou a receber o projeto Formare, desenvolvido pela Fundação Iochpe. “O projeto é voltado aos jovens estudantes, que passam o dia na empresa para treinamento em diversas áreas, como engenharia, logística e marketing. As aulas são elaboradas, voluntariamente, pelos próprios funcionários. Eu ensinava português, inglês e comunicação”.

A então assessora executiva percebeu que os participantes do projeto gastavam todo o salário do treinamento. “Os jovens recebiam o dinheiro e imediatamente compravam tênis e celular, não tinham um investimento para a educação e novos cursos. Foi quando perguntei aos superiores se eu poderia dar aulas de educação financeira. Logo de início, deu muito certo. Os estudantes tiveram consciência do valor do dinheiro e conseguiram fazer render”.

IN COMPANY  

Como estava prestes a se aposentar, enxergou aí uma alternativa de trabalho. “Voltei para a faculdade, na graduação de gestão para poder atuar na área. Aos poucos iniciei minhas palestras para funcionários da própria empresa e vi a importância e necessidade da educação financeira para esse público. Me aposentei e passei a levar este serviço às outras empresas, o chamado ‘in company’”.

No começo, muitas das apresentações foram realizadas de forma gratuita, não só em empresas, como em escolas, universidades, ONG’s e associações. “Eu me reinventei. Depois de quatro anos, passei a realizar palestras em todo o país”. A atividade in company de Odete já foi recebida em grandes organizações, como o Metrô de São Paulo, onde mais de mil funcionários acataram as dicas financeiras. “Foram três turnos de trabalho intenso e gratificante para os funcionários das áreas de logística e manutenção do metrô”.  

No currículo, estão palestras na Mercedes-Benz, de São Bernardo do Campo, Companhia Monsanto,  Volkswagen, Mitutoyo e Komatsu. Além disso, a educadora também desenvolveu trabalho no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), FAAP, USP, OAB e Senac. “As palestras in company é um foco muito importante para mim. Ao levar educadores financeiros para dentro das empresas, mostra que há preocupação com os funcionários, para que haja saúde financeira. É realmente uma coisa que me satisfaz. Está provado que isso proporciona harmonia no clima organizacional, eleva produtividade e contribui na qualidade de vida”.