Cidades

Surgimento dos primeiros casos de leptospirose após chuvas coloca região em alerta

Doença é transmitida pela urina do rato e o risco é maior em época chuvosa com enchentes

26 MAR 2023 • POR Guynever Maropo - de Suzano • 05h00
Primeiros casos de leptospirose surgidos após as enchentes deste ano colocaram o Alto Tietê em alerta - Daniel Marques/DS

Os primeiros casos de leptospirose surgidos após as enchentes deste ano colocaram o Alto Tietê em alerta. De janeiro até este mês de março, ao menos cinco pessoas foram confirmadas com a doença.

A médica e diretora da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Suzano, Maria Cristina Petin explica que a doença é transmitida pela urina do rato e o risco é maior em época de chuva com as enchentes.

As cidades da região estão em campanha alertando os moradores sobre os riscos e como se prevenir da contaminação de leptospirose. A Secretaria de Saúde orienta que os cidadãos evitem o contato com água ou lama de enchentes ou esgotos.

Ao suspeitar que esteja com a doença, recomenda-se procurar serviço de saúde para os encaminhamentos necessários. O médico avaliará as condições do paciente e o tratamento adequado, além do encaminhamento, se for o caso, ao hospital de referência.

Orientações

As orientações importantes é tentar afastar os roedores das residências; não jogar lixo e entulho nos córregos, bueiros ou ruas; manter alimentos guardados em recipientes bem fechados e em locais elevados; não descartar restos de alimentos no quintal ou terrenos baldios; armazenar o lixo em recipientes bem fechados e colocar pouco antes dos coletores passarem, “ele é a principal fonte de alimento para os ratos”.

Outra orientação é manter limpos quintais, terrenos, ruas e margens de córregos, eliminando entulhos, materiais de construção ou objetos sem uso que servem de abrigo aos ratos; fechar buracos entre telhas, paredes e rodapés. À noite, objetos de animais domésticos devem ser lavados e guardados e sempre manter a caixa d’água limpa e tampada.

No caso de poças de água nas ruas, a orientação é evitar o contato com as águas ou com a lama. Se a casa for invadida pela água, após a água escorrer, retire a lama e desinfete o local, sempre se protegendo com luvas, botas de borracha ou outro tipo de proteção para as pernas e braços (como sacos plásticos duplos). Lavar com água e sabão pisos, paredes, bancadas e objetos caseiros, desinfetando após com água sanitária (Hipoclorito de Sódio a 2,5%) na proporção de 1 xícara de chá (200 ml) do produto para 1 balde de 20 litros de água.

Todos os alimentos e remédios que foram molhados deverão ser descartados e se a caixa d’água foi invadida, não use essa água antes da desinfecção do reservatório.

Casos

Em Suzano, foi confirmado um caso da doença em janeiro e em fevereiro subiu para mais dois. Até o momento, em março, não havia sido registrado nenhum. Totalizando no primeiro trimestre do ano três casos de leptospirose na cidade.

Os casos positivos são referentes a adultos jovens (18 a 28 anos) que tiveram exposição de risco, ou confirmaram a presença de roedores na residência. Os indivíduos que testaram positivo residem em áreas distintas de Suzano. Os dois casos foram atendidos no Pronto-Socorro Municipal e o outro foi atendido em São Paulo – HCFMUSP por conta própria. Não dando entrada nas unidades de saúde de Suzano.

Ferraz de Vasconcelos confirmou um caso da doença neste ano e até o momento não houve óbito. A Secretaria de Saúde realiza ações preventivas em bairros atingidos pelas enchentes, como a Vila Cristina.

Poá registrou um caso suspeito para leptospirose que segue em investigação neste ano. A pessoa foi atendida pelo Pronto Atendimento Doutor Guido Guida e, posteriormente, encaminhado para o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos. 

Itaquaquecetuba não registrou casos ou óbitos por leptospirose neste ano. A Secretaria de Saúde alerta que mesmo após as águas baixarem, é de extrema importância desinfetar o local (sempre se protegendo). Por esse motivo, estão sendo disponibilizados kits de higiene pessoal e de limpeza para munícipes e agentes que estão trabalhando no atendimento às vítimas das enchentes.

Mogi das Cruzes ainda não recebeu confirmação de casos de leptospirose. Apesar disso, os moradores que tiverem os sintomas e contato com água de enchente ou enxurrada devem procurar a unidade de saúde mais próxima para ser avaliado. As medidas preventivas são reforçadas por meio de informação aos munícipes, sobretudo os que vivem em áreas ribeirinhas e/ou sujeitas a inundações e alagamentos.

Guararema e Arujá não registraram casos de leptospirose neste ano. Em Arujá, houve um caso suspeito, porém, foi descartado após resultado negativo de exame.

Sintomas e tratamentos

A médica Maria Cristina Petin explica que depois do contato com águas de enchente contaminada com a leptospira, uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada leptospira presente na urina de ratos e outros animais, os sintomas podem aparecer no 1º ou no 30º dias. A frequência maior é que o paciente identifique os sintomas no 7º ou 14º dia após contato com o item contaminado.

A doença é transmitida por águas contaminadas com urina de roedores como ratos de telhado, ratazanas e camundongos. A urina de outros bichos como cão, boi e porcos podem contaminar o meio ambiente se estiverem com a leptospira e até mesmo contaminar uma pessoa que tiver contato.

Os sintomas iniciam subitamente sendo: febre, dor de cabeça, dor no corpo principalmente nas panturrilhas (batata da perna), mais fraqueza e calafrios. “A pele pode ficar amarelada (icterícia), diminuir a urina, aparecer sangramento na pele, mucosas e até mesmo contaminar órgãos internos como pulmão, estômago e intestino. Se não tratada pode levar à morte”, explica a médica.

Os sintomas da doenças podem ser os mais variados possíveis, “a leptospirose também pode levar a diarreia, vômitos, náuseas, anorexia, artralgia, fotofobia e dor ocular”, completa.

Para identificar mais rapidamente é importante informar ao profissional de saúde que teve contato com águas, esgotos, depois de períodos de chuvas fortes que causaram enchentes. A profissional destaca que existe o teste rápido para leptospirose.

“Leva cerca de 20 minutos e é fundamental para iniciar o tratamento o mais rapidamente possível”, conta.

O tratamento consiste em administração de antibiótico apropriado, inicialmente endovenoso, diretamente na veia. Porém pode evoluir e levar a hemorragias e insuficiência urinária com necessidade de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e às vezes até hemodiálise. A doença se não for tratada pode levar à morte.

“Não temos vacina contra leptospirose, apenas prevenção. O tempo de tratamento varia devido à gravidade da infecção. Por isso é importante estar atento aos sinais”, conclui.