Diretora do Sindicato dos Professores do Estado critica tratamento aos docentes na rede estadual
Segundo ela, os professores pedem "socorro há 20, 30 anos" para a comunidade escolar, sociedade e autoridades competentes
A diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Ana Lucia Ferreira, criticou o sistema de segurança nas escolas estaduais. Segundo ela, os professores pedem “socorro há 20, 30 anos” para a comunidade escolar, sociedade e autoridades competentes visando o combate da violência nas escolas.
“A imprensa, governo e autoridades só se preocupam com esse tema quando morre alguém. Morreu alguém, todo mundo está discutindo agressão a professor e violência nas escolas. Agressão a professor tem todos os dias. Violência não é só alguém morrer ou apanhar”, critica Ana.
Segundo a diretora, os professores são vítimas de agressão “do Governo do Estado, que não tem políticas públicas para proteger as escolas, que não investe na educação”. Ela afirma que os professores sofrem, muitas vezes, assédio moral por parte dos diretores. “A gente é violentado pela sociedade que não valoriza a educação e os professores. A violência verbal dentro da escola acontece todo dia e toda hora, mas nós lidamos com isso”, diz.
Ana continua dizendo que é uma “tristeza que não tem fim” os casos de violência extrema que terminam na morte de professores e alunos. “É muito triste um professor que trabalha com a consciência de um aluno, que está dedicando a vida pelo aluno, ser morto durante o seu trabalho, dentro do seu ambiente de trabalho. Isso não se explica e me machuca muito”.
A diretora critica o trabalho das autoridades competentes. “Nunca senti um trabalho intensivo que combatesse a violência vindo das atividades constituídas. A segurança fornecida para as escolas pelo Governo do Estado são os muros. Se o muro cai, fica sem segurança”. Segundo ela, é possível “contar nos dedos” as escolas que têm funcionários.
Na visão de Ana, a segurança não tem relação com polícia, mas com equilíbrio. “Estamos numa sociedade desestruturada. Vivemos em um sistema onde a sociedade cria os filhos individualizados, perdeu-se o sentido humanista e social das coisas e os jovens têm a necessidade de socializar. O jovem sofre as consequências de uma sociedade doentia”. De acordo com ela, em casos de jovens que vivem em situação de violência em casa, a escola poderia ser um refúgio, mas não tem essa estrutura.
Além disso, a diretora critica a rotina do professor, a qual é “estafante”. “A maioria dos professores não almoça, não tem tempo. São 10, 15 minutos entre um período e outro. Muitas vezes ele tem que sair correndo de uma escola para outra em 15 minutos”. Ana Lucia continua dizendo que existem professores com sérios problemas de bexiga, já que não têm tempo de ir ao banheiro.
A diretora do Apeoesp diz que existem muitos casos de agressão física que não se tornam públicos pois os professores têm vergonha. “O machismo impera nas escolas. Principalmente professoras são agredidas nas escolas por alunos”, explica. Por fim, Ana diz que, muitas vezes, as professoras agredidas não recebem apoio nem das autoridades. “Já aconteceu de eu acompanhar uma professora e a autoridade perguntar o que ela fez, como se justificasse uma agressão”, finaliza.