Economia

BC admite que inflação só vai ceder em 2016

13 MAR 2015 • POR • 08h00

O Banco Central jogou de uma vez por todas a toalha em relação à alta da inflação deste ano. Desde o final de 2014, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, alertava que a pressão sobre os preços seria forte no início de 2015. Como alento, pregava que haveria um longo período de declínio do IPCA ainda este ano. Ontem, no entanto, esse otimismo cedeu espaço a um cenário mais realista: a inflação só vai ceder em 2016. A "queda da ficha" do BC foi demonstrada na ata divulgada ontem sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorreu semana passada e aumentou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano. Os diretores da instituição retiraram do documento essa expectativa de desaceleração dos preços ainda este ano. Ao mesmo tempo, o colegiado informou que a projeção para o IPCA de 2015 subiu e segue acima do centro da meta de 4,5%. Para 2016, é esperado um refresco, apesar de o cálculo também estar mais alto do que o objetivo perseguido pela autarquia. A ata, inclusive, é mais amena ao se referir ao caminho que a inflação percorrerá até atingir a meta no ano que vem. O documento substitui a avaliação de que decisões futuras de política monetária serão tomadas para assegurar a convergência "no próximo ano" para "ao longo" de 2016 - possibilidade que não está nas contas dos analistas do mercado financeiro. Os números exatos só serão revelados no fim deste mês, mas, no setor privado, a expectativa é de que o IPCA suba 7,77% em 2015 e 5,51% em 2016. Com essa postura mais escancarada da instituição, economistas contam com mais uma alta da Selic no mês que vem. A dúvida é se será de mais meio ponto porcentual (para 13,25% ao ano) ou mais branda, de 0,25 pp (13,00%). Até porque o BC mantém a promessa de que continuará a trabalhar para conter uma contaminação da alta do dólar e dos preços administrados pelo governo para os demais. Essa admissão do BC sobre o comportamento da inflação engrossa as apostas de que, pela primeira vez em 11 anos, o presidente terá de escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando os motivos que o levaram a descumprir sua missão. Além disso, alimenta o debate de que a autoridade monetária poderia voltar a adotar uma meta ajustada, com mais folga para 2015, como ocorreu justamente numa carta aberta de 2003 e que valeu para esse ano e o seguinte. A correção atual dos preços administrados - represados nos últimos meses - é o centro do debate. Na ata, o tema é abordado em vários trechos. O BC projeta alta de 10,7% este ano e atribui a esses itens a culpa de parte importante da alta da inflação de agora. Também enfatiza que são fundamentais para a decisão sobre os próximos passos do Copom.