Cidades

Especialistas avaliam as prioridades dos candidatos para as eleições

DS ouviu dois cientistas políticos para saber quais são as prioridades para a região e qual a vantagem de segmentar o governo

29 SET 2024 • POR Fernando Barreto - Da Reportagem Local • 22h00
Especialistas avaliam as prioridades dos candidatos para as eleições - Isabela Oliveira/DS
Para especialistas ouvidos pelo DS, os candidatos a prefeito e vereador precisam sempre entender bem da cidade e elaborar propostas que busquem solucionar os problemas locais. Eles também questionam se priorizar uma única pauta seja benéfico para o próprio candidato.
 
O DS buscou dois especialistas em política, o sociólogo Afonso Pola, e o cientista político Eduardo Caldas, e questionou-os sobre qual ou quais seriam as principais pautas que os candidatos deveriam priorizar em suas candidaturas.
Como acontece na maioria das vezes, alguns candidatos, principalmente a vereador, assumem uma única pauta de governo, como saúde, segurança ou educação, e “esquecem” das demais.
 
Para o sociólogo Afonso Pola, a primeira medida é sempre o candidato observar as demandas locais da cidade em que concorre e elaborar políticas públicas para que aquilo seja solucionado. Mas ele ressalta que cada cidade tem suas demandas e “fica difícil nomear uma pauta principal”.
 
Já o cientista político Eduardo Caldas é mais enfático e afirma que nenhuma demanda ou prioridade é “técnica, mas sim política”. Ele se refere ao fato de que os candidatos priorizam questões apenas políticas, que nem sempre vão resultar em coisas boas para sociedade.
 
Ele nomeia 11 pontos que para ele são essenciais, que variam das tradicionais, como Educação e Saúde, até meio-ambiente, como mudanças climáticas.
 
“As prioridades não advêm do conhecimento técnico ou do caráter de especialista. As prioridades são decisões políticas. O processo eleitoral é para que a população escolha quem vai definir os rumos da cidade por meio de um programa de governo. Então a resposta não é técnica. A resposta é política”, disse Eduardo Caldas.
 
Questionados sobre as diferenças de pautas entre os candidatos do Legislativo (vereador) e Executivo (prefeito), eles afirmaram que a prioridade do vereador é legislar as ações do prefeito, e este, por sua vez, é quem coloca em prática as ações.
“Os candidatos a vereador prometem coisas que não são da competência dele. A cobrança do prefeito tem que ser maior, porque é ele quem executa os projetos”, afirmou Afonso Pola.
 
Já Eduardo Caldas critica mais uma vez “as decisões apenas políticas”. “Tudo isso fica mais orgânico e mais politizado se a ação dos atores políticos é pautada por ideias e crenças. Quando a única referência é o "toma lá dá cá", é a troca de favores, de emprego, de ajuda mútua alijando as funções de legislar o nível do debate cai”, afirmou.
 
O DS também perguntou aos especialistas sobre quais seriam as principais pautas para a região. Eduardo Caldas, que ministra aulas na Universidade de São Paulo (USP) voltadas para o meio-ambiente, afirmou que a prioridade deveria ser o cuidado com o Planeta Terra e a biodiversidade.
 
Para Afonso Pola, sempre Educação, Saúde e Educação acabam se tornando os principais assuntos, mas ele afirma que “a integração entre cidades poderia ser a prioridade”.
 
“No Alto Tietê, Mogi é uma cidade muito desenvolvida e acaba sendo um polo atrativo para a população de outros municípios, as pessoas acabam usando os serviços públicos de Mogi. Mas o que poderia ser feito é integrar de uma maneira que não sobrecarregue Mogi, mas que os serviços da região como um todo sejam bons e o cidadão possa ir se consultar em outras cidades, por exemplo”, disse, citando exemplo do ABC Paulista.
 
O DS questionou os especialistas sobre os candidatos que priorizam uma única pauta para sua campanha e mesmo legislatura. Afonso Pola apontou que fazer isso pode gerar uma segmentação no candidato, que “não pode abranger muitas pessoas”.
“Está cada vez mais comum um candidato estar vinculado a uma única pauta. Mas é sempre complicado o candidato ao legislativo se vincular, para o próprio candidato. A chance de angariar votos de mais pessoas pode ser prejudicada. Mas tem candidatos que conseguem isso”, afirmou.
 
O sociólogo cita os candidatos que são ativistas da causa animal e conseguem muitas vezes serem eleitos assim.
“Temos exemplos de vários vereadores no Alto Tietê pautados com os animais, mas não conseguem a reeleição porque não conseguem ampliar suas pautas. É preciso que os candidatos tenham outros eixos, e não esse apenas um central. Dialogar com mais pessoas pode ajudar o próprio mandato”.