A crise política envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, o Boy, não devem impactar nas gestões dos prefeitos do partido no Alto Tietê.
Nas últimas semanas o ex-presidente e militares do exército brasileiro, que foram ministros de Estado da gestão Bolsonaro, foram indiciados por tentativa de golpe e por planejar o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.
O DS buscou três cientistas políticos para ouvir deles os possíveis impactos que a crise envolvendo os políticos de alto escalão do Partido Liberal podem ter sobre o Alto Tietê. Dois descartaram com certeza e outro acha possível, mas é pouco provável.
O sociólogo e cientista político Caio Moraes afirma que não deve impactar ou o impacto será muito pequeno. Caio explica que quando se trata de política municipal, a população presta muito mais atenção nas demandas locais e isso é o que influencia.
“São cidades (as do Alto Tietê) que não são o centro das grandes discussões. Os prefeitos das capitais que geralmente se engajam em assuntos nacionais, eles tendem a se colocar como atores. No âmbito municipal é pequeno. Além de que se houvesse impacto, os próprios prefeitos tentariam camuflar”, afirmou.
Caio também fala que os prefeitos do PL conseguem mobilizar o eleitorado bolsonarista, “sem ser tão ligados diretamente a Bolsonaro”.
Outro especialista buscado pelo DS foi o sociólogo Afonso Pola, que para ele o impacto pode sim existir e detalha as descobertas das investigações da Polícia Federal.
“Nós estamos falando de uma situação extremamente grave, envolvendo inúmeros quadros do PL, entre eles seu presidente, o ex-presidente, ministros civis e militares do governo Bolsonaro e vários parlamentares, que direta ou indiretamente participaram da construção dessa conjuntura tão danosa ao País”, explica.
Ele, porém, diz que não há como ter certeza e acredita em pouco impacto sobre os prefeitos, porque a população não consegue fazer uma relação entre os políticos e partidos.
“Boa parte das pessoas, e isso não é só característico da região do Alto Tietê, não faz uma leitura muito ideologizada dos partidos políticos. Mas a presença do presidente do PL entre os envolvidos, e sendo ele da região, aproxima mais os problemas”, diz.
Caio Moraes vai de encontro com a fala de Afonso, e diz que “numa sociedade tão desigual economicamente, não seria diferente na política”. Para ele, como a maioria da sociedade não é conectada com a política, essa relação entre membros do PL presos por tentativa de golpe não vai refletir nos municípios.
Para ele, um impacto negativo sobre os prefeitos da região por parte do eleitorado só aconteceria se, por exemplo, um prefeito estivesse envolvido diretamente com as prisões.
Outro especialista que conversou com a reportagem foi o cientista político Rodrigo Prando, que também descreve a mesma opinião de Afonso e Caio.
Para ele, o impacto não deve acontecer e acredita que só poderia influenciar se algum prefeito fosse muito crítico nas redes sociais sobre os acontecimentos.
Nenhum prefeito eleito, reeleito ou que deixará o cargo se pronunciou sobre as prisões.
Rodrigo afirma que os acontecimentos recentes preocupam mais intelectuais, imprensa e analistas de política, porque são as pessoas que mais acompanham. “A população em geral não faz essa conexão”.
O DS também perguntou aos especialistas se essa crise pode enfraquecer o Partido Liberal e desidratar a sigla, algo como aconteceu com o PT entre 2013 e 2015, onde muitos políticos se desfiliaram.
Para Caio Moraes isso não deve acontecer também ou apenas indiretamente. Segundo explicou, só Bolsonaro deve sair enfraquecido, e que a partir disso, um novo líder da direita pode surgir e a depender do partido deste, o PL pode “derreter”.
“A depender de como vão organizar a nova liderança, se ele for de outro partido, pode cair o número de filiados do PL. Mas se essa construção da nova liderança for em volta do próprio PL, então ele (partido) pode até se fortalecer. Hoje, a figura do Tarcísio (governador de São Paulo) é muito forte, então abre uma perspectiva do Republicanos e PSD crescerem”.
Afonso Pola diz que uma certeza sobre isso vai depender do desenrolar das investigações.
“Se o desgaste deles perante a opinião pública for grande, com certeza a tendência é o PL perder quadros em grande quantidade. Aqueles que possuem mandatos, ou que assumirão seus mandatos no próximo ano, vão procurar preservar seus eleitores”.
Rodrigo Prando compartilha da mesma opinião de Caio e descarta um impacto no PL.
“Com certeza, Bolsonaro perderá força política, ficará isolado e outras figuras vão assumir esse posto. Bolsonaro já está inelegível, tem problemas gravíssimos com a Justiça, está indiciado, e não acho que vai reverberar de certa forma no partido”, afirmou.
Por fim, o DS perguntou aos especialistas se, caso Bolsonaro seja preso pela tentativa de golpe, a população pode iniciar alguma rebelião ou revolta como o visto em 8 de janeiro de 2023.
Para Caio não acontecerá. Ele lembra das manifestações pró-Lula em 2018 e acredita no mesmo agora, mas não algo como em 8 de janeiro em Brasília.
“Hoje sabemos que o que aconteceu em 8 de janeiro foi planejado, arquitetado. Tinha o aparato do governo para incentivar e organizar a tentativa de golpe. E isso não terá numa possível prisão de Bolsonaro e muitos daquela época estão presos hoje”, explica.
Caio, porém, alerta para possíveis atentados parecidos com o que acorreu semanas atrás na frente do Supremo Tribunal Federal, onde um home atirou bombas em direção ao STF e a estátua da Justiça.
“Reações individuais como no STF pode acontecer, mas um 8 de janeiro demandaria uma estrutura estatal. Não conseguiram levar adiante antes e dificilmente conseguiriam agora”.
Para Afonso Pola o mesmo pode se repetir se os presos do 8 de janeiro não forem punidos.
“Mas caso a sombra da impunidade pousar sobre esse lamaçal de fatos execráveis, isso servirá de incentivo para que cenas como as vistas em 8 de janeiro possam se repetir de forma indiscriminada”.
Rodrigo Prando compartilha da opinião de Afonso. O cientista político acredita que seja possível novos atentados, que “seriam organizados por grupos de extrema direita”.
“Uma das tarefas de um líder populista é manter a sua base eletrizada e Bolsonaro consegue fazer isso. Especialmente porque ele construiu uma imagem de perseguição e qualquer ação desencadeada pela Justiça, especialmente o Alexandre de Moraes, é visto como um ingrediente para um comportamento agressivo”, diz.